Vítor Pomar

Vítor Pomar
As it is
tríptico, 2020, acrílico s/ tela, 260 x 435 cm 
Preço: €25 000

Vítor Pomar
Who
políptico, 2020, acrílico s/ tela, 380 x 570 cm 
Preço: €35 000 

NOTA BIOGRÁFICA

Artista plástico, filho do pintor Júlio Pomar, Vítor Pomar nasceu em 1949. Entre 1966 e 1969 frequentou a Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP) e de Lisboa (ESBAL). Em 1970 realiza a sua primeira exposição individual (Galeria Quadrante, Lisboa). Nesse mesmo ano parte para a Holanda, onde reside até 1985; estuda na Academia Livre de Haia e na Academia de Arte de Roterdão, completando os estudos em 1973. Ensina serigrafia na Academia Livre de Haia (1973-1974). Visita o México em 1974 com uma bolsa do Ministério da Cultura da Holanda e trabalha durante cinco meses em Nova Iorque em 1982. 


TRÊS PERGUNTAS A VÍTOR POMAR


ANTÓNIO CERVEIRA PINTO — Enquanto artista, que significado tem a palavra arte para ti?

VÍTOR POMAR — ...É para esquecer.

Não se faz isso a ninguém, nem ao pior inimigo!
A arte, tal como é praticada actualmente resulta no último ópio do povo.
Só uma fé, envergonhada e cega,  ainda ousa suportar a prática e frequentação da arte.
Sem fundamento nem razão, a arte anda à deriva, servindo aqueles que a ela recorrem.
Posto isto.
É sempre circunstancial e não universal.
É uma interrogação acerca da existência e da natureza da mente, embora nada seja dito que possa elucidar o crente.
Uma vez que não dispomos das ferramentas apropriadas para situar a questão, tudo se torna escorregadio e propício a desvi(ci)os vários.
Vejamos o caso do M. Duchamp que tanto gostava de mencionar o Leonardo e sua 'coisa mental': mas quem se deu ao trabalho de investigar essa questão em profundidade?
E os adorados seguidores do Marcel, capazes de ignorar a omnipresente sensualidade e humor do mestre, e contentarem-se com a palha (chacota mental)?
Tb há a ideia de que já nada se pode fazer de novo, que apenas nos resta a recapitulação da matéria dada!
Ora sabemos que nada se repete, uma vez que a mente/realidade é por natureza pura criatividade.
Uma vez descartado o pensamento discursivo, desvanecido o labirinto dos pensamentos sempre pronto a encapsular-nos irremediavelmente, há que aprender a desaprender.
Em que a consciência é navegação sem distanciamento (dela própria).
É este distanciamento ou separação que a obra de arte (genuína) convida a anular, através da ponte chamada desapego!
É por isso que o respeito pelo outro é a via do respeito por si próprio: não há outro.
É por isso que, ao contrário das artes, a verdadeira liberdade não depende de causas e condições, é intrínseca a cada um no seu íntimo, no silêncio do coração.
É por isso que estamos sujeitos a procurar atingir e acaparar essa liberdade reminiscente, sem nos apercebermos de que, por nos ser constitutiva, não é suscetível de nos trair!
A propósito, ousarei anexar algumas breves notas recentes.
“Diria que há quatro tipos de artistas, a saber: 
–– Aqueles que incansavelmente repetem a exclamação infantil usada para chamar a atenção das mães para as suas habilidades. 
–– Surge em seguida o caso do eterno adolescente que usa e abusa da libidinosa pulsão para construir sua obra. 
–– Apresento-vos agora o artista por excelência, imbuído da sua qualidade própria e única, talvez mesmo à imagem da ideia do Universo enquanto criação divina. 
Ele, o artista, possui e/ou é possuído pelo seu estatuto, que tanto provoca o senso comum como encanta o público, esse seu devoto-quase-súbdito.
Diria que... 
Todos e cada um destes modelos de que despudoradamente aqui abuso, coabitam em cada artista, em maior ou menor grau ou preponderância, variando também ao longo do tempo que nos é facultado para o exercício da actividade criativa. 
Por fim podemos bem suspeitar que a tal, (re)ferida qualidade intrínseca da mente não é apanágio exclusivo do artista, mas pelo contrário, é comum a todo e qualquer humano, auto-conhecimento incluído. 
O artista parece assim exercer uma actividade que só a fé, no seu valor próprio, justifica, uma vez que nada de 'científico' lhe pode valer.” 
 
A chave para a quarta categoria de artista encontra-se na definição de BELEZA que mais me apraz e inspira:
“Longe de pertencerem ao objecto, as características da beleza relativa estão intimamente ligadas ao observador. 
Um matemático maravilha-se com a beleza de uma equação bem concebida e um engenheiro com a beleza de uma máquina. 
Aquele que deseja a calma escuta deliciado um prelúdio de Bach. 
O ermita que contempla a transparência última do espírito não experimenta uma tal necessidade; a sua harmonia com a natureza do espírito e dos fenómenos situa-se num outro plano; para ele, todas as formas são compreendidas como a manifestação da pureza primordial, todos os sons como o eco da vacuidade e todos os pensamentos como o jogo do conhecimento. 
Não faz distinção entre o harmonioso e o discordante, o belo e o feio. 
A beleza tornou-se omnipresente e a plenitude imutável. 
Alguém diz: “Em vão procuraríamos pedras da rua numa ilha de ouro.” 
Matthieu Ricard in “O Infinito na Palma da Mão”, (pag. 320, Editorial Notícias)
VP, 8/06/2020

[não respondeu às perguntas seguintes]


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